Razão e emoção: componentes
fundamentais do conhecimento
A Sala de Imprensa do Simpósio Hipertexto conversou
com José Moran, professor, pesquisador e gestor
de cursos online da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo (Eca/USP). Em uma engajada entrevista digital o conferencista do
evento nos revelou muito da sua linha de pensamento sobre a evolução da educação.
O resultado do bate-papo você pode ler a seguir:
Como as
tecnologias da educação podem reabilitar o Humanismo. Desafios da Educação Humanista
para aliar, efetivamente, os bem-estares pessoal e organizacional e desenvolver
uma aprendizagem capaz de se situar entre a previsibilidade institucional e a
imprevisibilidade das redes sociais.
José Manoel Moran, professor da Universidade de São
Paulo (USP) participará da 5ª edição do Simpósio Hipertexto e
Tecnologias da Educação: evento que tornou Recife parada obrigatória para estudiosos de todo o
País. Na ocasião o pesquisador promoverá um debate decisivo para os rumos da
sociedade: como tornar viável a Educação Humanista, que enfrenta o desafio de
reaproximar razão e emoção. Ao procurar respostas, o estudioso aponta maneiras
de enfrentar um dos mais resistentes mitos pavimentados pelo Ocidente: a ideia
de que pensar e sentir são opostos irreconciliáveis.
Moran atua como pesquisador e gestor de cursos
online, além de ser autor de diversos livros, como Educação a Distância – Pontos
e Contrapontos e A Educação Que Desejamos – Nossos Desafios e Como
Chegar Lá. Neles, o autor investiga como a dificuldade de gerenciamento das
emoções e da ética torna a aprendizagem lenta: ponto de vista que contesta a
crença tradicional de que lentidão no aprendizado é sintoma de déficit
intelectual.
Os estudos do pesquisador apontam as tecnologias da
informação e da comunicação como aliadas no processo que torna a educação
humanista componente indispensável ao bem-estar das pessoas e das organizações,
dentre as quais as escolas e as empresas.
Pensando a educação como uma
resultante de forças, razão e emoção não seriam vetores opostos, que
paralisariam o sistema? Como conciliar razão e emoção em torno do que você
chama de Educação Humanista Inovadora?
Prof. José Manuel Moran - Razão e emoção são
componentes fundamentais do conhecimento. A separação que fizemos no ocidente
durante dois mil e quinhentos anos (desde Platão e Aristóteles) não se sustenta
cientificamente, à luz dos estudos atuais sobre a mente humana (como, por
exemplo, os do Antônio Damásio).
A educação só faz sentido se se preocupa com as
pessoas como um todo, com a sua inteligência, sensibilidade, emoção, atitudes e
valores. A educação faz sentido se for integral, integrada, abrangente. A
educação humanista é o processo de ajudar as pessoas a que aprendam a evoluir
em todas as dimensões, e para que consigam fazer melhores escolhas em todos os
campos.
O equilíbrio entre razão e emoção nos ajuda a
compreender, sentir, decidir e agir de forma mais coerente e estimulante.
Infelizmente, a maior parte das pessoas tem dificuldades em fazer essa
integração; por isso, complicam sua vida e a dos que convivem com elas. Todas
as decisões racionais sofrem a interferência de nossas emoções e de outras
componentes mais complexas como as culturais.
Quanto mais nos desenvolvemos racionalmente e
emocionalmente, mais clareza vamos adquirindo das interferências nas nossas
decisões. Por isso, a educação humanista é importante: para avançarmos na
consciência do conhecimento complexo, que leva em consideração todas as
variáveis pessoais e sociais.
Razão e
emoção podem caminhar juntas, no mesmo sentido, em prol de uma educação mais
integrada, mais abrangente. Ilustração: Karla Vidal
Num contexto em que o utilitarismo e
a vantagem própria parecem ser os grandes motivadores da aprendizagem, como
trazer o humanismo para a educação sem que a vertente empreendedora seja
negligenciada, valorizando-se, em contrapartida, um romantismo inócuo?
Prof. José Manuel Moran - A visão humanista não é
imobilista, nem leniente com os que querem obter vantagens indevidas. A
educação humanista pode e precisa ser articulada com a visão empreendedora,
integradora e de longo prazo. Pode ser que numa competição de curta duração, o
humanista seja ultrapassado, de imediato, pelo espertalhão, mas a vida é uma
corrida de longo prazo, onde vale a persistência, a coerência e os valores
pessoais, organizacionais e sociais praticados.
As mudanças demorarão mais do que alguns pensam,
porque nos encontramos em processos desiguais de aprendizagem e evolução
pessoal e social. Não temos muitas instituições e pessoas que desenvolvam
formas avançadas de compreensão e integração, que possam servir como
referência. Predomina a média, a ênfase no intelectual, a separação entre a
teoria e a prática.
Temos grandes dificuldades no gerenciamento
emocional e ético, tanto no âmbito pessoal quanto no organizacional, o que
dificulta o aprendizado rápido. São poucos os modelos vivos de aprendizagem
integradora, que junta teoria e prática, que aproxima o pensar do viver.
Somente podemos educar para a autonomia, para a
liberdade, com processos fundamentalmente participativos, interativos,
libertadores, que respeitem as diferenças, orientados por pessoas e
organizações livres.
Como a Educação Humanista pode
potencializar os ganhos tecnológicos para a emancipação humana, evitando a
tendência da técnica de tomar o lugar de atuação das pessoas e de inseri-las em
rotinas mecanizadas e “desumanizadas”?
Prof. José Manuel Moran - Em meio a muitas
contradições e dificuldades, conseguimos incorporar a tecnologia no que tem de
libertadora e sair das armadilhas da dependência dela e de qualquer outra
dependência.
Como pessoas, grupos e sociedade estamos aprendendo
a emancipar-nos, a evoluir sempre mais. Infelizmente muitos – individual e
organizacionalmente – ainda procuram atalhos para dominar, controlar, explorar,
enganar. As tecnologias podem ajudar-nos a evoluir ou a controlar.
A educação é a soma de todos os processos de transmissão
do conhecido, do culturalmente adquirido e de aprendizagem de novas ideias,
procedimentos, soluções, realizados por pessoas, grupos, instituições,
organizada ou espontaneamente, formal ou informalmente. Estamos numa fase de
transição: nem estamos no modelo industrial (embora mantenhamos muitas de suas
estruturas organizacionais e mentais) nem chegamos ao modelo da sociedade do
conhecimento, embora parcialmente incorporemos alguns dos seus valores e
expectativas.
A sociedade é educadora e aprendiz, ao mesmo tempo.
Todos os espaços e instituições educam – transmitem ideias, valores normas – e,
ao mesmo tempo, aprendem.
Quanto mais tecnologias avançadas, mais a educação
precisa de pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. A sociedade
torna-se cada vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas,
inovadoras, confiáveis. O que faz a diferença no avanço dos países é a
qualificação das pessoas. A educação com profissionais mais evoluídos nos mostrará
caminhos mais avançados de integrar o humano e o tecnológico; o racional,
sensorial, emocional e o ético; o presencial e o virtual; a escola, o trabalho
e a vida em todas as suas dimensões.
Como os professores, com auxílio das
tecnologias da educação, podem diminuir a distância que os separa das crianças?
E no caso dos adolescentes e da educação de adultos e idosos? Como lidar com o
peso do analfabetismo tecnológico que se sobrepõe às carências de educação
básica?
Prof. José Manuel Moran - Ser um bom profissional
da educação, hoje, implica também aprender a ensinar numa sociedade que está
sofrendo profundas transformações em todos os setores da vida social e que
agora são perceptíveis também nas organizações educacionais.
Há questões que só se resolvem em médio prazo, com
maior investimento na formação, remuneração, carreira e valorização
profissional. Um professor hoje pode, com apoio das tecnologias móveis e em
rede, informar e explicar menos e orientar mais como aprender, organizando
atividades significativas em que os alunos participem mais ativamente.
O grande gargalo é a formação continuada dos
profissionais para o domínio técnico e pedagógico destas tecnologias em cada
fase da vida dos alunos, da educação infantil até a educação da terceira idade.
Essa formação costuma ser fragmentada, descontínua. Muitos professores também
não são proativos. Esperam que tudo venha do Governo ou da diretoria das
escolas.
As tecnologias móveis desafiam as instituições a
sair do ensino tradicional em que os professores são o centro, para uma
aprendizagem mais participativa e integrada, com momentos presenciais e outros
online, mantendo vínculos pessoais e afetivos, estando juntos virtualmente.
Ainda não
existe um bom aproveitamento das tecnologias, mesmo que muitas delas sejam
gratuitas ou de baixo custo e disponíveis para uso educacional. Ilustração:
Karla Vidal
Na maioria das escolas, há um descompasso com o
cotidiano. A escola não aproveita o potencial mobilizador dos games, celulares,
tablets, da comunicação pelo Twitter, Skype ou Facebook ou programas
semelhantes.
As inovações mais promissoras encontram-se em
escolas que têm tecnologias móveis na sala de aula, utilizadas por professores
e alunos. Partem de situações concretas, de histórias, cases, vídeos, jogos,
pesquisa, práticas e vão incorporando informações, reflexões, teoria a partir
do concreto. Quanto menores os alunos, mais práticas precisam ser as
atividades.
Não podemos dar tudo pronto, empacotado. Aprender
exige envolver-se, pesquisar, ir atrás, produzir novas sínteses fruto de
descobertas. O modelo de passar conteúdo e cobrar sua devolução é ridículo. Com
tanta informação disponível, o importante para o educador é encontrar a ponte
motivadora para que o aluno desperte e saia do estado passivo, de espectador.
Aprender hoje é buscar, comparar, pesquisar, produzir, comunicar. É
interessante organizar pesquisas em pequenos grupos, participar de desafios ou
gincanas em que os tablets ou smartphones possam ser úteis tanto para coletar
informações, organizá-las, como para comunicar-se com colegas que estão
distantes.
No ensino superior presencial os modelos blended
learning são os mais interessantes: parte em sala de aula e parte online, com
atividades integradas e sinérgicas. A tendência é para uma convergência maior
entre os cursos presenciais e os à distância, com projetos pedagógicos, equipes
e plataformas integrados. Isso favorece a mobilidade de alunos e professores.
Alunos podem migrar de uma modalidade para outra sem problemas, podem fazer
algumas disciplinas comuns. Professores podem participar das duas modalidades e
ter maior carga docente. Isso permite que processos, produtos e metodologias
operem interativamente, reduzindo custos e aumentando sua visibilidade.
Como as tecnologias na educação lidam
com a difícil escolha entre educação formal/técnica/rígida e educação
libertadora/criativa/flexível?
Prof. José Manuel Moran - As tecnologias são utilizadas na
escola tanto para reforçar o ensino convencional, mais rígido, centrado no
professor e no conteúdo, como para promover uma educação mais libertadora,
criativa e flexível. O importante é o projeto educativo que a escola tem e a
execução desse projeto por gestores e professores abertos para as mudanças de
hoje.
Com os avanços das redes e da mobilidade, as pessoas
estão aprendendo de forma muito mais flexível, horizontal, informal, sem
depender somente dos mestres. A aprendizagem em grupos, em pares, entre pessoas
de diversos países é cada vez mais ampla e fascinante. Como podemos aprender
equilibrando a organização previsível que as instituições escolares propõem com
a imprevisibilidade da aprendizagem informal nas redes sociais?
Além da mobilidade, há avanços nas ciências
cognitivas: aprendemos de formas diferentes e em ritmos diferentes. Não
precisamos dar o mesmo conteúdo e atividades para todos, no mesmo ritmo. Temos
soluções tecnológicas que orientam os professores sobre como cada aluno
aprende, em que estágio se encontra, o que o motiva mais e monitorar esses
avanços.
Muitos aprendem intercambiando conhecimentos
interpessoais, por exemplo, em portais como o Livemocha, onde pessoas de 190
países aprendem e ensinam línguas simultaneamente. Quem sabe português ajuda a
pessoas de outros países e é ajudado por elas para aprender línguas
estrangeiras, gratuitamente. O portal Riffworld incentiva o compartilhamento e
a divulgação de músicas de autoria, de sua execução pública pela WEB a custo
zero. Redes como Itsnoon e Festival de Ideias divulgam projetos sociais
interessantes, que convidam a que outros participem, contribuam, colaborem.
Estas iniciativas – entre muitas outras semelhantes – confirmam a importância
que hoje adquiriu o conhecimento compartilhado, o intercâmbio de saberes, a
quebra de barreiras formais e a importância de encontrar canais de aplicação desses
conhecimentos em projetos concretos, compartilhados.
Há ofertas de cursos hoje muito mais variadas que
anos atrás. Os cursos massivos online (MOOCs) trazem situações muito
desafiadoras. Começaram com o acesso a professores e materiais muito ricos e de
forma aberta. Temos propostas de cursos massivos estruturados, planejados antes
em todos os seus passos, com a previsão do que os alunos devem fazer em cada
etapa. São os xmoocs, de estrutura mais hierárquica e previsível.
Ao mesmo tempo também são oferecidos cursos online
massivos, com foco na intensa colaboração, participação dos alunos. São os
cmoocs que focam a geração de conhecimento através da criatividade, a autonomia
e a aprendizagem social em redes. O planejamento não é fechado, nem previsível
pelas equipes de produção totalmente. Os participantes do curso pesquisam
soluções para situações concretas, desenvolvem propostas viáveis, contribuem
ativamente para o seu resultado, colaboram, discutem, publicam, trazem suas experiências
e conhecimentos consolidados, que são valorizados pelo(s) professor(es) de cada
curso.
A ideia de que é possível cultivar
uma educação que dispensa a rigidez e trabalha só no polo da flexibilidade não
é uma forma de eximir o Estado e os educadores da complicada tarefa de educar
as novas gerações, cada vez menos afeitas a controles institucionais?
Prof. José Manuel Moran - A educação não se esgota
na escola. A sociedade educa através da família, grupos, organizações, mídias.
Todos somos corresponsáveis pelo sucesso ou fracasso educativo individual e
coletivo. A educação formal organiza uma parte desse processo mais amplo, que é
o ensino de conteúdos, habilidades, competências e valores importantes para o
país, para a transmissão da cultura passada e orientar para escolhas pessoais e
profissionais futuras.
O Estado é diretamente responsável pela educação
formal escolar e pela educação de adultos. Precisa oferecer oportunidades de
educação continuada para todos, de atualização profissional, de desenvolvimento
de competências no mundo digital. Mas todos nós, cidadãos, participamos na
educação integral de cada criança e jovem, na interação rica que estabelecemos
com nossas palavras e ações em cada situação em que nos encontramos. Nesse
sentido mais amplo todos somos educadores, tanto pela ação como pela omissão,
pelo exemplo positivo como pelo negativo.
Não seria necessário rever a teoria
de Paulo Freire que coloca a educação “bancária” como antagonista completa da
educação libertadora? Como, na era da informação, abrir mão do papel
arquivístico ou bancário da educação, tendo em vista as pressões não só de
mercado, mas também culturais e relativas à obtenção de status?
Prof. José Manuel Moran - A organização da
informação tão diversificada é importante na educação. Aprender a selecionar o
que vale a pena, a compará-lo e avaliá-lo é fundamental para a construção do
conhecimento. Mas para isso, não precisamos manter o modelo tradicional de
transmissão convencional das informações (o modelo bancário). O conteúdo que um
aluno precisa aprender na educação básica e superior está disponível de
múltiplas formas, a maior parte gratuitas. O importante é o que ele pode fazer
com tanta informação; como torná-la significativa, congruente e aplicável.
Temos que aproveitar todas as possibilidades que as
tecnologias nos permitem de criar ambientes ricos de informação, de atividades
adaptadas ao ritmo de cada aluno. Uma formação mais prática que teórica, com
muita pesquisa, atividades supervisionadas, projetos, orientação dos alunos
desde o começo.
Uma das formas interessantes de ensinar hoje é
através das aulas invertidas ou flipped learning. As informações iniciais sobre
cada assunto podem ser disponibilizadas no ambiente virtual, com um roteiro que
o aluno percorre, investiga. Depois o professor tira as dúvidas, orienta,
amplia os significados num ambiente de webconferência. No próximo assunto,
pode-se partir de um desafio, um jogo, uma viagem virtual, onde os alunos sigam
pistas, investiguem, colaborem entre si até chegar a um consenso, a partir
também de leituras com autores de referência sobre os temas pesquisados. A informação
é importante, mas não precisa estar confinada unicamente à sala de aula e
depender só da transmissão do professor.
Como, num contexto de pobreza e
carência de meios, os educadores podem agir para ser gestores menos previsíveis
e mais inovadores?
Prof. José Manuel Moran - Há muitas tecnologias e
aplicativos gratuitos ou de custo baixo disponíveis para uso educacional.
Qualquer professor pode criar um blog, criar um grupo, se a escola ou
instituição não tiver ambientes digitais próprios. O importante não são os
aplicativos, mas a criatividade na utilização didática dos recursos possíveis
na instituição em que trabalha.
É importante começar pela experiência prévia do
aluno, – o que cada um sabe sobre um assunto. E avançar para compartilhar as
referências básicas comuns a todos – um vídeo, um texto fundamental. E propor
atividades em ritmos diferentes para alunos com estilos cognitivos diferentes.
Tudo o que é previsível, a tecnologia faz por nós,
ou nos serve como apoio. Nosso desafio é motivar os alunos para gostar de ler,
de pesquisar, de aprender, de conviver. Para isso também precisamos ter
desenvolvido esse mesmo gosto, competência e riqueza de experiências de
aprendizagem em todos os campos. Se somos previsíveis, utilizaremos as
tecnologias de forma previsível também, com poucos diferenciais.
Numa sociedade conectada, podemos aprender de
formas muito diferentes desde que entramos na escola. Mesmo “confinados”,
alunos e professores em espaços previsíveis, nossas atividades de ensino e
aprendizagem podem ser muito mais diversificadas, com metodologias mais ativas,
que combinem o melhor do percurso individual e grupal. É possível planejar
atividades diferentes para grupos de alunos diferentes, em ritmos diferentes e
com possibilidade real de acompanhamento pelos professores. É importante
trabalhar com desafios de aprendizagem, começando pelos simples, ligados à
realidade deles e ir evoluindo para outros mais complexos.
Quando a aprendizagem deixa de valer
a pena?
Prof. José Manuel Moran - A aprendizagem vale menos a
pena quando conseguimos motivar os alunos só com argumentos externos (a nota,
ameaça de punições etc.). Nesse caso eles aprendem só para passar, para
livrar-se da tarefa, para ter um diploma. Vale a pena, quando motivamos os
alunos intimamente, quando eles acham sentido nas atividades que propomos,
quando se engajam em projetos em que trazem contribuições, quando os resultados
superam nossas expectativas iniciais, porque houve uma negociação na atividade
e eles fizeram sugestões enriquecedoras.
A aprendizagem deixa de valer a pena quando não
acontece de verdade. Se pouco mais de um terço dos alunos de nível superior
consegue interpretar um texto, o problema é muito grave. Metade dos alunos do
ensino médio e superior desistem de estudar. O motivo principal não é o
econômico, a necessidade de trabalhar, mas o de não ver sentido no que se
aprende. A escola é pouco atraente. As disciplinas estão soltas, falam de
assuntos sem ligação direta com a vida do aluno. Muitos professores estão
desmotivados. A infraestrutura está bastante comprometida, o acesso real da
maior parte dos alunos à Internet é muito insatisfatório.
Se tantos jovens desistem do ensino médio e da
faculdade, isso comprova que a escola e a universidade precisam de uma forte
sacudida, de arejamento, de um choque. Alunos que não gostam de
pesquisar, que não aprendem a se expressar coerentemente e que não estão
conectados ao mundo virtual não têm a mínima chance profissional e cidadã
enquanto esse quadro não mudar. Saber pesquisar, escolher, comparar e produzir
novas sínteses, individualmente e em grupo, é fundamental para poder ter
chances na nova sociedade que estamos construindo.