Um professor pode, sempre que as circunstâncias o permitirem, aconselhar seus alunos. Um conselho transmitido com serenidade, no momento certo e para pessoas que querem ouvir constitui um ato de afetividade e uma ação educadora essencial. Professor nenhum pode fugir da grandeza dessa ação quando solicitado ou quando a ocasião se fizer oportuna e, ao aconselhar, deve ter plena consciência de que suas ideias podem ou não ser acolhidas e que uma eventual recusa não implica que a tarefa tenha sido inútil. A bela missão de oferecer é sempre mais ampla que a perspectiva do acolher.
Um professor que aconselha sabe que oferece ajuda para um momento específico, mostra solidariedade em um instante de dúvida, mas não pode, com esse gesto, guardar a pretensão de que está educando emocionalmente o aluno. Uma educação verdadeiramente afetiva, uma ajuda serena para a educação emocional não pode se prender a circunstâncias restritas, não se vale deste ou daquele momento, se a oportunidade o sugere. A educação emocional requer a força de um projeto, necessita tempo, programação específica e dedicação ilimitada.
Diante dessa referência, duas questões cabe debater: são as emoções, realmente, educáveis? Em se respondendo de forma afirmativa, indaga-se: qual a maneira ou o processo para concretizar a educação das inteligências inter e intrapessoal e existencial?
A educabilidade das emoções constitui um fato de evidente percepção. Se, por exemplo, uma criança acorda assustada em um quarto estranho e chora acossada pelo medo, está expressando uma emoção exasperada. Mas, se seu pai ou sua mãe, que dormem no quarto ao lado, acolhem-na, mostrando que estão presentes e transmitindo a segurança dessa companhia, o medo se dilui, o que demonstra que é sempre possível, com uma intervenção, reduzir o desgaste de uma emoção aflitiva. Mas uma coisa é a palavra de acalanto que acalma, ao contrapor a segurança ao medo, e outra é ensinar alunos de uma classe numerosa a administrar seus sentimentos e a educar-se emocionalmente.
Experiências nesse sentido existem há tempos e, no Brasil e em muitos outros países, já se sabe que é perfeitamente possível estabelecer, através de um planejamento, aulas de educação emocional. O que devemos, entretanto, levar em conta é que a alfabetização emocional não significa que os professores falarão de emoções e de sentimentos como falam de temas escolares. Em um projeto de alfabetização emocional, as aulas expositivas de nada servem. Dessa forma, professores interessados precisam aprender o que fazer e, sobretudo, como fazer.
O primeiro passo a ser dado por uma escola que planeja um trabalho nesse sentido é definir um projeto de ação interdisciplinar que clarifique os objetivos pretendidos e determine as nuances das inteligências pessoais a ser trabalhadas em face da faixa etária que se pretende educar, o professor ou a professora responsável por essa ação, as estratégias de aula que deverão ser desenvolvidas e as formas de avaliação, identificando, em cada aluno, a maneira como melhor compreende e administra as situações emocionais surgidas. Se todo estudante que aprende, em Biologia, a forma como seu corpo reage ao meio sabe transferir para seus cuidados esses saberes, não é diferente com aqueles que, compreendendo como sua mente dispara suas emoções, podem melhor descobrir formas de controlá-las. Um trabalho de alfabetização emocional não domestica emoções, mas leva os alunos a refletir sobre elas, observando-se em múltiplas situações-problema e encontrando alternativas mais ou menos viáveis para contorná-las.
A grande verdade na Educação Emocional é que até pouco tempo não se acreditava ser essa aprendizagem possível e, hoje, não só essa possibilidade é concreta, como estão em nossas mãos os meios para que ocorra. Morre, aos poucos, uma escola cujo compromisso essencial era transmitir informações; nasce em suas cinzas outra, que ajuda o aluno a transformar informações em conhecimento, a acordar suas inteligências e a refletir sobre o emaranhado admirável de suas diferentes emoções.
Celso AntunesPsicopedagogo, professor é bacharel e licenciado em Geografia e mestre em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo, especialista em Inteligência e Cognição.
fonte : http://blog.educacional.com.br/articulistaCelso/p113880/