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Formação em Pedagogia, UFPA e pós-graduada em Informática na Educação - UEPA. Atuando na Rede Municipal e Estadual de Educação em Castanhal/Pa

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Educar as Emoções

Fonte :
http://blog.aprendaki.net/2007/08/12/educar-as-emocoes/

Publicado por Aprendaki em Entrevista.
Celso Antunes - Celso Antunes

Celso Antunes nasceu em São Paulo em 1937. É bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo, Mestre em Ciências Humanas e Especialista em Inteligência e Cognição. Membro consultor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar, reconhecido pela UNESCO, é autor de cerca de 180 livros e consultor de diversas revistas especializadas em Ensino e Aprendizagem. Suas obras voltadas para temas de Educação foram publicadas por diversas Editoras brasileiras: Vozes, Augustus, Artmed, Scipione, Salesiana, Papirus, Positivo e traduzidas para Editoras Internacionais: Lumen, Kapelusz, San Benito, Nárcea e Gedisa e distribuídos na América e Europa. Ministrou aulas para todas as séries e graus, foi Diretor de grandes Colégios particulares em São Paulo: Pueri Domus, Portal do Morumbi, Sion. Coordenador Geral de Ensino de Graduação na Uni Sant’Anna por mais vinte anos, ministrou e ministra aulas em cursos de Pós Graduação, no país e exterior.

Nesta entrevista, Celso Antunes, um dos palestrantes do SABER 2007, tece comentários sobre as inteligências múltiplas da euforia à realização de experiências significativas nas escolas. Fala sobre emoções, valores, integração x inclusão, indisciplina e auto-estima. Salienta que há muitas maneiras de educar para as emoções e que há valores perdidos pela escola em seu percurso histórico.

Aprendaki – “Como trabalhar valores e educar emoções” é o tema de sua palestra no Saber 2007. Como pretende aborda o tema?

Celso Antunes – Pretendo mostrar que o cérebro humano é hoje bem mais conhecido que há algumas décadas e esse conhecimento destaca sua plasticidade, circunstância que torna possível aprender a se administrar emoções, “acordar” inteligências, mas sobretudo ensinar valores. Não busco apenas dizer que “é possível”, mas através de exemplos concretos mostro também “como” é possível trabalhar pedagogicamente valores e emoções

Aprendaki – Existe uma maneira de educar as emoções?

Celso Antunes – Em verdade, não existe “uma” maneira, mas diversidade de experimentos realizados nos Estados Unidos, Europa e Japão, mas também o Brasil. Por muitos anos, exerci uma atividade em uma escola particular de São Paulo, educando emoções. Os resultados, acredito, foram excelentes. Mas, não creio que essa maneira seja a única e que experiências realizadas por Rogers, Eysenck, Cattell, Kohlberg, Likona e outros podem ser experimentadas em escolas no Brasil.

Aprendaki – Educar as emoções favorece a auto-estima?

Celso Antunes – Nem sempre. Auto-estima é sentimento, não é exatamente uma emoção. Mas, se uma pessoa emocionalmente educada melhor se compreende, será capaz de fugir de estados incoerentes de baixa auto-estima. O que, seguramente, em nada ajuda a auto-estima são ações e livros plenos de conselhos e palavras bonitas, mas que não induzem a uma ampla compreensão sobre como o cérebro trabalha sentimentos e emoções e como é possível, com paciência e ajuda, educá-lo.

Aprendaki – A integração na escola é uma maneira de trabalhar valores?

Celso Antunes – Não sei se a palavra pretendida é “integração” ou “inclusão”. Confesso que não percebo muito bem onde se busca chegar com o conceito de integração. Integrar quem? Integrar o que? Agora, se a palavra pretendida for “inclusão”, não tenho qualquer dúvida que o desenvolvimento progressivo de uma cultura de inclusão constitui admirável valor.

Aprendaki – Quais os principais valores foram esquecidos pelas escolas, educadores e alunos?

Celso Antunes – Creio que bem mais fácil, seria indagar quais valores “não” foram esquecidos pela escola? Será que a escola da esquina trabalha seriamente o Otimismo?, a Auto-Estima?, a Coragem?, a Confiança em si?, a Persistência?, a Força de Vontade? Reitero que me parece bem mais fácil pensar se as escolas acreditam que realmente trabalham valores.

Aprendaki – O senhor é um ícone das “inteligências emocionais” no país. Desde Gardner até os dias de hoje, como o senhor tem visto o avanço desses estudos no Brasil e no mundo?

Celso Antunes – Vejo com um sentimento de sincero otimismo. Quando, à partir dos anos 1990, as idéias de Gardner começaram a ser discutida no Brasil e o livro de Daniel Goleman se transformou em colossal “best seller” é evidente que o tema virou moda e a educação emocional transformou-se, como dizem os alunos, na “bola da vez”. Mas, isso sempre ocorre com uma nova teoria, com o fascínio de interessante descoberta. Passada essa fase de euforia, as escolas verdadeiramente sérias passaram a desenvolver projetos estimulando as inteligências e esses resultados ainda que restritos a poucas experiências, são excepcionais. Ainda que poucos educadores percebam, certos experimentos educacionais brasileiros na questão da educabilidade emocional constituem referências internacionais. Livros de minha autoria que mais vendem na América Latina e na Europa, são justamente os que tratam esses temas.

Aprendaki – Sendo professor por tantos anos, como o senhor avalia a qualidade e o interesse dos alunos pela aprendizagem quando a escola dá destaque a todas as inteligências?

Celso Antunes – Trabalhar uma teoria, nem sempre significa trabalhá-la bem. Muitas vezes, o desinteresse e o aparente fracasso de uma iniciativa não se deve a sua idéia essencial, mas a maneira precipitada como se buscou torná-la prática. Quando o trabalho é consciencioso, como em Camaquã no Rio Grande do Sul, e em muitos outros locais do país os resultados são admiráveis, deixando alunos, pais e professores se perguntando qual castigo receberam as gerações anteriores por não conviver com os privilégios educativos da geração atual.

Aprendaki – A disciplina e a indisciplina em sala de aula é uma perda do controle das emoções?

Celso Antunes – Não creio. A indisciplina em sala de aula é fruto de fatores e condições específicas que andam distante da questão das inteligências múltiplas. Talvez nem alhos e bugalhos sejam tão diferentes quanto a busca a essa comparação. Respeitado ou não na diversidade de suas linguagens e de suas inteligências um aluno pode ser ou pode não ser disciplinado.

Aprendaki – Qual a importância de trabalhar valores e desenvolver virtudes na educação infantil?

Celso Antunes – Creio que a forma melhor de responder essa questão é responder com outras questões. Qual a importância do otimismo?. Qual o valor da autêntica alegria? Qual o preço de uma felicidade construída com realismo? Quando vale deixarmos para as gerações que agora chegam uma esperança concreta de ufanismo? Quanto pagar pelo entusiasmo que fundamenta a persistência e estrutura a garra? O preço não sei, o valor é inestimável.

* Entrevista realizada pela jornalista Renata Del Vecchio, colaboradora do Portal Educacional Aprendaki.